sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A Batalha do Passinho

A Batalha do PassinhoSe o rap foi além apenas da música e fez criar uma cultura do hip hop, com dança, grafite, entre outras formas de expressão, assistindo ao documentário A Batalha do Passinho, de Emílio Domingos, tem-se a impressão de que o funk carioca vai no mesmo caminho. Sem recursos, usando quase que somente a criatividade, jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro criam uma nova forma de dança, o passinho, que a princípio pode parecer apenas uma moda de movimentos incongruentes, mas vai muito mais longe.
A Batalha do Passinho mostra como base de sua estrutura as etapas de um campeonato para decidir o melhor do estilo, mas o principal do filme são os depoimentos dos personagens envolvidos com o movimento, sejam os organizadores deste campeonato, aqueles que divulgam de alguma forma o passinho ou os próprios dançarinos, que mostram a importância da criatividade de cada um e como eles souberam usar a internet para desenvolver esta nova dança.
No desenvolver da trama, é interessante acompanhar as diferenças que esta nova forma de dança traz em relação à maioria. Primeiro pela questão da internet, que se torna ferramenta imprescindível para qualquer um que deseja entrar no mundo do passinho. Mas, ainda a personalidade dos retratados, que foge do tradicional. Se no hip hop, por exemplo, o jovem dançarino tenta exaltar sua masculinidade para atrair a atenção, no passinho se faz o contrário. Muitos dos dançarinos exploram seu lado feminino, com claras referências ao universo GLBT, com o mesmo objetivo: conquistar as mulheres.
Para um leigo, grande parte do documentário de Emílio a princípio parece sem sentido, já que dá a entender ser apenas um grupo de garotos com movimentos que simulam uma forma estranha de dança. O diretor, no entanto, vai apresentando aos poucos a riqueza do movimento, a importância dele para os participantes – em certo momento chegam a dizer que quem tem poder em uma favela ou é traficante ou dançarino – e constrói o filme de tal forma que apresenta um final carregado de emoção.
Assim como A Alma da Gente, de Helena Solberg e David Meyer, A Batalha do Passinho mostra jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro que fogem da realidade da violência através da dança. E, da mesma forma trágica, a realidade bate na porta destes jovens mostrando que esta fuga não é assim tão simples. Na construção do filme, no entanto, Emílio é mais bem-sucedido em levar para a tela a forma como a violência afetou seus personagens.

Fonte. Br Cine

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